A depressão é um transtorno de humor que, em casos mais graves, pode impactar profundamente a funcionalidade do indivíduo. Pessoas que sofrem de depressão frequentemente reduzem gradualmente a quantidade de atividades que realizam no dia a dia, chegando a um ponto em que podem ter dificuldades até mesmo para se levantar da cama. Felizmente, existe uma forma eficaz de tratar essa inércia: a ativação comportamental, uma técnica que busca resgatar lentamente a capacidade de realizar atividades diárias.

Para entender como funciona a ativação comportamental, é importante compreender os fatores que geram a inércia na depressão. A psicologia entende que todos os comportamentos geram consequências, que são separadas em duas categorias: reforços e punições.

Reforços e Punições no Comportamento Humano

Os reforços são consequências que tendem a aumentar a emissão de um determinado comportamento. É como dar um petisco a um cachorro para que ele aprenda algo novo: o animal entende que, se repetir a ação, ganhará novamente o petisco. Para os seres humanos, a mesma lógica se aplica, como comer algo de que gosta após uma conquista que exigiu esforço, o famoso "eu mereço", ou receber um aumento de salário, elogios ou a própria satisfação por ter alcançado algo.

Já a punição é o oposto; são as consequências que tendem a diminuir um determinado comportamento. Usando novamente o exemplo do cachorro, é como borrifar água no focinho do animal quando ele emite um comportamento indesejado. Para os humanos, as punições podem incluir brigas, retirada de algum estímulo prazeroso (como tirar o celular de um adolescente que se comportou mal na escola), entre outros.

Na depressão, ocorre uma falta de reforços e um comportamento de esquiva. O comportamento de esquiva busca evitar estímulos aversivos, ou seja, situações desagradáveis. Por exemplo, uma pessoa em depressão pode evitar sair de casa para não ter que lidar com o mundo externo, que é visto como aversivo.

O Papel da Ativação Comportamental

O objetivo da ativação comportamental é recuperar os reforços nos comportamentos do indivíduo, seja por meio de modificações no comportamento ou no ambiente. Isso ocorre porque alterações comportamentais também trazem mudanças no humor, ajudando o indivíduo a sair do estado deprimido. No entanto, para que a ativação seja eficaz, não basta apenas instruir o indivíduo a "fazer coisas". É crucial entender quais atividades trazem prazer, quais são aversivas, e trabalhar para construir um repertório comportamental que aumente a possibilidade de receber reforços e gratificações, além de eliminar comportamentos de esquiva. Este repertório é totalmente personalizado, pois depende da história de vida do indivíduo, do ambiente em que ele vive, das suas relações pessoais, entre outros fatores. Não existe uma "receita" pronta que possa ser aplicada a qualquer pessoa com depressão.

Além de selecionar atividades específicas, é importante que essas atividades permitam medir o progresso do paciente, para que ele possa ver o quanto está avançando desde o início da terapia. Assim, as primeiras atividades tendem a ser simples e fáceis de realizar, como escovar os dentes todos os dias ao acordar.

À medida que a pessoa progride, as atividades propostas aumentam em complexidade, até que a vida do paciente esteja totalmente funcional, retomando atividades como trabalhar, estudar, e manter relacionamentos (familiares, de amizade, amorosos), entre outras. Isso é especialmente importante, pois começar com tarefas complexas pode causar frustração se o indivíduo não conseguir realizá-las, prejudicando o trabalho da ativação comportamental.

A ativação comportamental se destaca como uma ferramenta eficaz no tratamento da depressão, ao buscar reintroduzir reforços positivos e eliminar comportamentos de esquiva na vida do paciente. Ao adaptar-se às necessidades e experiências únicas de cada indivíduo, essa abordagem oferece um caminho prático e mensurável para a recuperação. Para aqueles que enfrentam a depressão, a ativação comportamental pode ser um passo crucial na retomada de uma vida plena e funcional, demonstrando que, com apoio adequado, é possível superar os desafios impostos por essa condição.