Dia Mundial do Autismo
Reflexões Sobre o Diagnóstico na Vida Adulta
AUTISMO
Camile Schmidt Chevalier
4/2/20252 min read


O Dia Mundial de Conscientização do Autismo, celebrado em 2 de abril, é uma data importante para promover a inclusão e ampliar o debate sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em todas as fases da vida. Embora o diagnóstico do TEA seja frequentemente associado à infância, um número significativo de adultos vive com autismo sem nunca ter recebido uma avaliação adequada.
Pesquisas recentes indicam que, para cada três casos diagnosticados na infância, outros dois permanecem sem identificação. Esses indivíduos chegam à vida adulta sem um diagnóstico formal, muitas vezes enfrentando dificuldades cotidianas sem entender completamente suas diferenças. Esse fenômeno tem sido chamado de "geração perdida" de adultos com TEA, e sua identificação é um desafio crucial para os profissionais de saúde mental.
O diagnóstico do TEA na vida adulta enfrenta diversos obstáculos. O primeiro deles é a dificuldade em obter informações detalhadas sobre o desenvolvimento infantil do paciente, um aspecto essencial para a avaliação. Além disso, muitos adultos aprendem a mascarar seus sintomas ao longo dos anos, desenvolvendo estratégias cognitivas para se adaptar ao meio social. Esse fenômeno é especialmente comum em mulheres, que tendem a apresentar sintomas de internalização, frequentemente confundidos com ansiedade ou depressão, dificultando ainda mais o diagnóstico correto.
Os sintomas do autismo podem variar amplamente, mas geralmente envolvem dificuldades na comunicação social, interesses restritos e comportamentos repetitivos. Alguns adultos autistas podem apresentar hipersensibilidade sensorial, dificuldades na interpretação de expressões faciais e linguagem corporal, além de desafios na adaptação a mudanças inesperadas na rotina.
Outro desafio importante é que muitos adultos autistas receberam diagnósticos equivocados ao longo da vida, sendo tratados para transtornos psiquiátricos sem que a condição autista fosse considerada. Estudos indicam que 90% dos adultos que buscam um diagnóstico tardio de TEA atendem aos critérios clínicos para o transtorno. Essa falta de reconhecimento adequado pode ter um impacto significativo na qualidade de vida dessas pessoas, especialmente porque até 70% dos indivíduos afetados desenvolvem transtornos comórbidos, como ansiedade, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Em contextos clínicos, a taxa de comorbidade pode chegar a 84%.
A comorbidade entre TEA e outros transtornos pode dificultar ainda mais o diagnóstico, pois sintomas como ansiedade e depressão podem obscurecer as características centrais do espectro autista. Consequentemente, muitas pessoas recebem tratamentos que abordam apenas os sintomas secundários, sem levar em consideração a raiz da questão.
Diante desse cenário, é essencial ampliar a conscientização sobre o autismo na vida adulta, capacitar profissionais de saúde para uma abordagem mais precisa e acolhedora e promover espaços de inclusão e apoio para adultos autistas. O reconhecimento tardio do TEA pode trazer alívio e validação para aqueles que passaram anos sem entender plenamente suas experiências, permitindo que recebam o suporte adequado para viver com mais bem-estar e autonomia.